Guias pedem mais incentivo ao turismo em favelas do Rio
Com o aumento da procura por visitas às favelas do Rio de Janeiro, guias alertam para o turismo degradante que algumas empresas promovem nas comunidades. Segundo eles, a prática não favorece a mão de obra nem a economia locais, mas geram exploração da miséria e informações erradas. Sites em inglês oferecem anúncios de pacotes a partir de US$ 29 para visita a favelas, principalmente a Rocinha, “a maior da América Latina”, e Santa Marta, “onde o vídeo do Michael Jackson foi filmado”.
Thiago Firmino, do Tour Favela Santa Marta, defendeu mais parcerias e afirmou que não quer ser terceirizado por grandes empresas. Para Ana Lima, que recebe turistas para a trilha do Morro Dois Irmãos e eios pelo Vidigal, o guia local proporciona acolhimento e autenticidade aos turistas.
Segundo Firmino, os guias locais também querem formação específica para trabalhar em favelas. Outra reivindicação é melhorar a divulgação dos eios nos centros de atendimento aos visitantes. “O turista estrangeiro ou brasileiro, quando chega ao aeroporto, quer visitar a favela. Ele tem essa curiosidade. Quer saber onde foi filmada a novela. Acho que deveria ter mais visibilidade no aeroporto. O governo podia publicar uma cartilha dos guias das favelas.”
A Empresa de Turismo do Município do Rio de Janeiro (RioTur) informou que não cabe ao órgão regulamentar qualquer segmento de turismo. O cadastro de guias é responsabilidade do Ministério do Turismo. A RioTur mantém um cadastro de empresas que operam na cidade.
Para Firmino, guias que não conhecem o local prejudicam quem mora na comunidade e trabalha com turismo. “Tem guia que entra na favela, não usa nossa mão de obra local e informa coisas que não são verdadeiras. Nossa preocupação é com a história local, com a história de vida dos moradores. Tem empresa que realiza trabalho escravo. Elas querem pagar R$ 5, R$ 10 por turista, mas cobram R$ 100, R$ 150 de cada um. A gente não foi formado para ficar aceitando qualquer coisa”, reclamou Firmino.
Segundo Ana Lima, muitas empresas fazem turismo incompleto. “Os guias de fora sobem o Vidigal de van, sobem a trilha, tiram foto e descem de van. Não deixam nada para o morro. O turista é mal atendido, mal informado e paga mais por isso. Eles fazem o turismo incompleto, porque têm pouco tempo. am pela favela e não sentem o morro, as pessoas, que são o que a comunidade tem de maior valor. Não conseguem sentir o clima, provar a gastronomia, ver como vemos o morro, a favela.”
O problema foi debatido ontem (5) na Câmara Municipal do Rio, depois de o vereador Célio Lupparelli (DEM) apresentar projeto de lei proibindo o turismo degradante nas comunidades. Para Lupparelli, a preocupação surgiu com as denúncias. Ele explicou que o projeto será construído com a participação dos guias locais. A próxima reunião na câmara está marcada para o dia 26.
“Os guias querem discutir e aperfeiçoar o projeto, de modo que ele inclua outros problemas que eles têm e que eu não conhecia. Tínhamos uma imagem que não era profunda e hoje eles estão contentes por terem sido vistos. Não quero esconder o lado feio [das favelas], mas tem de respeitar a dignidade das pessoas. Há casos em que entram nas casas sem pedir licença e com filmadoras. Quando tem um guia da região, a visita ocorre de outra maneira”, acrescentou o vereador.
De acordo com a RioTur, denúncias de abusos são apuradas e o responsável pode ser retirado das publicações oficiais da cidade. Sobre a qualificação dos produtos turísticos e divulgação dos roteiros, uma parceira com o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) resultou na elaboração do Guia das Comunidades. Por enquanto, o guia inclui as comunidades de Chapéu Mangueira/Babilônia, Morro dos Prazeres, Santa Marta, Morro dos Cabritos/Tabajaras, Formiga, Salgueiro e Turano.

