Ascensão à classe média deve ser associada ao consumo consciente, defende Pnuma


Campanha do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) convida a repensar os hábitos e estilo de vida do cidadão e alerta para o consumo consciente
O slogan do Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado hoje (5) – “Sete bilhões de sonhos. Um planeta. Consuma com moderação” – convida as pessoas a repensar seus estilos de vida e a se verem como parte da coletividade, em uma comunidade global. A expectativa do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) é que de 1 bilhão a 3 bilhões de consumidores de classe média sejam somados à população global até 2030. Segundo o Pnuma, o Brasil tem um papel importante nesse contexto.
Para a consultora do Pnuma na área de consumo sustentável, Fernanda Daltro, o país tem grande potencial para se tornar modelo de sustentabilidade e exportar esse conceito para o mundo, com a ascensão de novas famílias para a classe média. “Temos uma relação diferenciada com a natureza e uma população mais sensível ao tema e que está construindo seu modelo de consumo. O Brasil está em um momento de virada, com o o de boa parte da população à classe média e que pode agora ter o supérfluo e não apenas o necessário para subsistência. Então precisamos trabalhar a mentalidade dessas pessoas para que não tenham só o consumismo como objetivo de vida”, disse.
Fernanda destacou que o planeta não tem como sustentar o padrão da classe média no modelo atual, construído desde a 2ª Guerra Mundial, principalmente pelos Estados Unidos, e exportado para mundo. Ela diz que as empresas e o Poder Público têm instrumentos importantes para incentivar a produção e o consumo sustentáveis, como campanhas de conscientização, critérios em compras públicas e incentivos econômicos. Para ela, cada movimento, cada mudança de hábito das pessoas importa e também faz a diferença no contexto final.
“Se cada um pudesse mudar uma coisa nos seus hábitos que favoreça o meio ambiente, e se 7 bilhões de nós fizermos isso também? Pequenos hábitos fazem a diferença, dão exemplo e vão contaminando as pessoas ao seu redor”, explicou Fernanda.
A gerente de Comunicação e Campanhas do Instituto Akatu (organização não governamental que trabalha pelo consumo consciente), Gabriela Yamaguchi, lembrou que o país está vivendo uma crise de escassez de água e que a população sente os efeitos na prática. Para ela, esse é o momento de promover a educação e a mudança de comportamento para o consumo sustentável. “As pessoas devem visualizar que realmente estamos próximos de esses recursos se esgotarem se continuarmos nesse ritmo de consumo”, disse.
Segundo Gabriela, a ideia de que a riqueza de um país está ligada apenas ao giro da sua economia está ficando ultraada, e cada vez mais as instâncias internacionais têm um olhar mais social, além do econômico. “O Brasil tem sido muito reconhecido pela inclusão de pessoas no o aos bens de consumo, mas tem um desafio muito grande que é a educação dessa população. Só dar poder de compra não forma cidadãos que analisam e fazem as escolhas conscientes. Precisamos ajudar as pessoas a questionar o que é mais importante na vida delas, a fazer escolhas que priorizem menos bens materiais e sigam no caminho da qualidade de vida”, explicou.
O Instituto Akatu tem uma rede de aprendizagem para troca de conhecimentos e práticas sobre consumo consciente entre professores e alunos do ensino fundamental de escolas em todo o Brasil. O Edukatu reúne informações e material sobre o tema e convida os participantes a realizar atividades por meio de circuitos de aprendizagem.
O Pnuma desenvolve no Brasil, desde 2008, a campanha aporte Verde, que procura sensibilizar turistas para contribuir com o desenvolvimento sustentável local por meio de escolhas responsáveis durante as férias e o lazer. Na próxima semana, o programa das Nações Unidas lança, em parceria com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o Guia Produção e Consumo Sustentáveis: Tendências e Oportunidades para o Setor de Negócios.
Segundo a consultora do Pnuma, o guia é uma forma simplificada de explicar esse conceito de produção e consumo sustentáveis. “Isso vai além da chamada gestão ambiental, de reduzir o desperdício, mas [também consiste em] desenhar produtos mais sustentáveis, um ferro elétrico que consome menos energia, por exemplo. O guia traduz esse conceito mais complexo para uma linguagem que as pequenas e médias empresas entendem e se apropriam. É uma conversa com todos os elos da cadeia também para sensibilizar o consumidor a prestigiar esses produtos. Optar pelos mais sustentáveis serve de recado para a indústria, de que [o consumidor] quer mais desses produtos”, explicou Fernanda.
